Percorro devagar todas as sílabas do teu corpo e serei ferro e lume brando, até que os gritos se escutem e o dia seja imediato no pulsar mais dentro de ti.
E serei chama. De tanto de ti serei deus e o diabo, o amado e o amante, o sabor a renda apetecida e branca desarmada nas praias do teu corpo.
Naquilo que as madrugadas vivam haverá sempre o nosso cheiro a barro religioso que se embaraça e espreita. Ainda acreditamos no enigma dos corpos quando a excitação se anuncia e nos esmaga o corpo no corpo, até que eu seja a roca e o linho, o grito no grito, e se pressinta o silêncio repentino. Continuamos virgens neste desejo de invadir o teu mar e na tua vontade plantar a vinha; os teus beijos serão o regaço e o regadio da minha força. Existe uma luz profunda dentro de ti, por dentro do teu poço quando o mar se fecha e as vozes gritam, quando os corpos se agitam, quando o gozo nos desassossega.
Natural de Lisboa, reúne obra dispersa por diversos Suplementos Culturais. O seu percurso literário baseia-se nas pessoas, em cada uma das suas pétalas, em cada uma das suas rugas. Herberto Helder, Nietzsche, Mikhail Naimy, Wilhelm Reich, são a sua referência literária. Gosta de gostar das pessoas, por isso escreve. Além da presente obra, publicou ainda Bairro de Lata, Elena, Inacabado, Reformado, gosta de desafiar o papel e esperar as palavras.
1 avaliação de De repente, a cidade
Luísa Neves Ferreira –
Muito bom, magnífico, maravilhoso, surpreendente