Durante o dia 10 de Outubro de 2020 o pseudónimo Eva Monte subiu ao palco da 2ª Edição da Gala dos Autores da Cordel D’ Prata 2020, no auditório Ruy de Carvalho em Lisboa para receber a mais desejada distinção literária. A obra “Na Loucura da Dúvida” da autoria de Eva Monte foi premiada como a “Melhor Obra 2020” um prémio de escolha 100% Editorial. A Cordel D’Prata entrevistou Eva Monte após este marco no seu percurso de autora de referecia em Portugal.
Como foi ouvir o nome da sua obra ser anunciado como vencedora em plena Gala dos Autores Cordel D’Prata?
Ao receber o prémio conscienzalizei o reconhecimento da minha obra como um testemunho válido, senti que cheguei ao coração de quem leu o meu livro e que consegui transmitir o que são estas doenças e o sofrimento que implicam.
Eva Monte
Uma surpresa e uma alegria!
Escrever este livro nasceu do sonho de, através dele, ser um testemunho do sofrimento que a Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC) implica, bem como, do sofrimento da Depressão, a que a POC tantas vezes conduz.
Acredito que entender é o primeiro passo para a aceitação.
Aceitar e entender que o doente com POC é, apenas, mais uma pessoa que padece de uma patologia, que estas doenças não são uma fraqueza ou uma mania, mas sim entidades nosológicas bem definidas e conhecidas e que implicam um elevado sofrimento para o qual existe tratamento.
Ao elaborar este livro quis, também, ser um vislumbre de esperança dentro do desespero e desesperança que tantas vezes assola o doente.
A distinção ainda é muito recente, no entanto, já recebeu um contacto da Sic Noticias e Tvi para falar sobre a sua obra. Acredita que este Prémio poderá influenciar o seu reconhecimento e sucesso?
Na verdade, o que mais me passa pela mente é que este prémio pode ser a rampa para que estas doenças sejam mais conhecidas e reconhecidas.
Eva Monte
Um passo para que a sociedade aceite o sofrimento provocado pela Doença Mental e para que se quebre o estigma que ainda lhe está tão associado.
Que todos reconheçam que estas patologias são doenças graves, geradoras de um enormíssimo sofrimento e que os doentes possam, através do meu testemunho, acreditar e ter esperança num tratamento eficaz.
Que este prémio eleve a minha voz que quer dizer que é possível diminuir o sofrimento do doente com POC e com Depressão e que incita todos, os que sofrem destas dores, a arriscarem quebrar o seu isolamento.

Por que razão assinar toda a sua obra com um Pseudónimo ao invés do eu nome real?
O uso de um pseudónimo apareceu, de início, como uma capa de proteção que me permitiu escrever sem filtros sobre a doença, sobre a minha experiência e sobre o meu sofrimento.
Eva Monte
Acho que, só mais tarde, nasceu em mim o desejo profundo e verdadeiro de ser, na sociedade, um testemunho de superação da doença. O uso do pseudónimo foi perdendo parte da sua força, no entanto, após alguma reflexão mantive-o por uma necessidade de proteger a privacidade dos que me são mais queridos, principalmente, o meu marido e os nossos filhos.
O estigma da doença mental, infelizmente, ainda se encontra muito presente na nossa sociedade. Tinha agrado que o leitor soubesse que tenho todo o gosto em ser um testemunho de superação e aceitação e gostava de o ser de uma forma presente e vívida. No livro fiz questão que constasse o meu email, na badana, para poder ser um apoio acessível a quem a ele desejar recorrer.
Alguma razão especial para o seu Pseudónimo ser Eva Monte?
Já me fizeram várias vezes a pergunta do porquê do nome Eva Monte, penso que esperando uma justificação poética e elevada. Chegaram a sugerir que “Monte” seria uma alusão à caminhada difícil, ao escalar pelo tratamento.
Espero não desiludir os leitores, mas a escolha do nome pouco tem de poético e nada de metafórico!
“Eva” era o nome próprio que gostaria de dar a uma filha, se tivesse tido mais uma menina.
O apelido estava a ser difícil de decidir. Certo dia conduzia com a rádio ligada e disse para comigo “O primeiro apelido que ouvir será o apelido da Eva”, e assim foi, o primeiro apelido que ouvi na rádio foi “Montes”, pensei então: “Eva Montes” não fica bem, mas “Eva Monte” sim. E então assim ficou!
Já obteve algum retorno de quem leu o seu livro?
Um dos mails que recebi dizia: “…ler as suas palavras fez-me sentir, pela primeira vez, que alguém entende o meu sofrimento…Tenho 40 anos e foi-me diagnosticado POC na adolescência, embora a corrida pelos psicólogos, psiquiatras e até neurologistas tivesse início aos 10 anos, ao ler… muitas vezes parecia que eu mesma o tinha escrito de tão igual que é ao que eu passo e sinto… Estou-lhe muito grata por partilhar as suas experiências, e fazer-nos perceber que afinal não estamos sós.”

Sempre desejou ser escritora?
Engraçado, … de maneira nenhuma!
Sempre adorei ler, mas cresci virada para as ciências e é, nessa área, a minha formação. Se, em jovem, me dissessem que iria escrever um livro, acharia impossível.
Mas a vida é repleta de imprevistos e pode ser verdadeiramente, surpreendente.
Durante a doença, escrever tornou-se numa terapia e no momento, em que, quebrava a solidão em que vivia.
Talvez, começar a dedicar-me à escrita, tenha sido uma das formas estranhas como a vida se manifesta… há, sempre, algo que nasce no meio de uma tempestade.
No entanto, não deixo de recordar o sorriso com que o meu Pai lia as quadras que eu lhe escrevia, em pequena, pelo Dia de Aniversário e pelo Dia do Pai. Dizia que eu tinha “muito jeito para rimar”.
Agora, adoro escrever! Continuo a desabafar com o computador as minhas dúvidas e as minhas dores, as minhas experiências, as minhas conquistas, a rever o passado e a projetar o futuro, a testemunhar a vida que há em mim e que quero deixar em papel!
Continuo, assim, a declarar guerra à doença e à solidão a que ela me remete.
Eva Monte