A História da literatura ficou marcada por diversos pseudónimos nascidos de criadores distintos e ideais diversos, através de Fernando Pessoa nasceu Ricardo Reis, Bernardo Soares, Álvaro de Campos entre tantos outros, fora do nosso Portugal outros tantos criadores germinaram ao longo da história. James Macpherson criou Ossian um heterónimo só com o objetivo de ser narrador das suas histórias, a fronteira entre o pessoal e o irreal é ténue para todos nós da mesma forma que é para o “outrónimo” José Pires Fernandes, autor da obra “Alguém Além de Nós” que continua com identidade desconhecida; desta forma, entrevistamos o seu “outrónimo” na esperança que nos responda às perguntas pelos dois.

Qual a diferença entre o seu “Outrónimo” e o tradicional pseudónimo ou heterónimo? 

Despisto de imediato que a opção de escrever sob uma outra designação, a que chamei de “outrónimo”, não pretendeu carregar de qualquer mistério a minha identidade e identificação mas foi apenas a forma de compromisso que encontrei para preservar, na forma, a minha circunstância, não permitindo que uma experiência de escrita pudesse, mesmo que remotamente, ser associada ou beneficiar daquilo que é a minha atividade. 

José Pires Fernandes

No outrónimo, o nome é o da própria pessoa escreve mas que são os menos usados. Tendo eu 4 nomes e sendo conhecido pelo primeiro e último, apenas me limitei a identificar o texto com o meu segundo e terceiro nomes acrescentando-lhe um dos apelidos do meu pai mas que não transitou para o meu nome. Dito de outra maneira o nome com que escrevo é o meu, não inventado, não separado de mim razão pela qual não tenho heterónimo nem pseudónimo, limitando-me a usar os nomes do meu nome.

O Leitor pode esperar algum um dia conhecer o rosto por detrás de José Pires Fernandes? 

Por esta resposta, confirmo que não existe gestão de mistério relativamente à minha identidade e a revelação da parte que falta dela (já que não escondi que me chamo José Pires e o meu pai era Fernandes) não é uma questão de importância que possa acrescentar ou diminuir o interesse daquilo que escrevi. Diria até que o leitor, qualquer leitor, poderá saber mais de mim quando ler o livro e  com essa leitura ganhar o direito, que o seu interesse lhe ditar, de querer saber qual é o nome com que chamam e o que é que faço profissionalmente.  Quem sabe se não encontramos no nosso próprio nome alguém igual a nós mas que espera ir além de nós…

 Quais os traços principais de José Pires Fernandes?

Os traços de José Pires Fernandes, são obviamente os meus próprios traços. Os de alguém com uma história de 63 anos, com atividade profissional no mundo do Direito com um contacto intenso com as histórias de vida dos outros, e que como a maioria das pessoas  e as personagens do livro é um espaço reservado, às vezes aberto, às vezes fechado… 

Na sinopse da sua obra afirma e passo a citar “há sempre, em nós, alguém além de nós.” Pergunto quantos diferentes é possível existirem em apenas um de nós? 

Em nós cabem os que recordamos; os que pretendíamos esquecer e ainda não esquecemos; os que procuramos, quer conheçamos já ou não; os que em cada presente são os protagonistas mais directos ou remotos da nossa história e, de sobremaneira, aquele que revemos quando nos olhamos no espelho e, por breves instantes, percebemos que não coincidimos em absoluto. Isto é, quem nós somos quando somos capazes de nos pensar a nós mesmos.

José Pires Fernandes

Seria possível resumir a sua mais recente obra “Alguém Além de Nós” em três frases distintas para os nossos leitores?

• Só aquilo que tem nome pode ser conhecido porque só quem coincide com o seu nome, é, e permanece.

• Quem procura os outros acaba sempre por se encontrar a si, mesmo que nunca chegue a encontrar o que procura.

• Viver é um exercício diário de coisas comuns no qual, o que escolhemos e como nos deixamos escolher, pode fazer fechar em labirinto ou abrir em caminho e horizonte. 

O livro de José Pires Fernandes, Alguém Além de Nós: https://cordeldeprata.pt/livraria/alguem-alem-de-nos/